Todos os anos entre Janeiro e Fevereiro, as amendoeiras dos montes e caminhos do Algarve florescem como por encanto. E na verdade é sempre um encanto contemplar este espectáculo que ao longo de séculos tanto tem cativado os olhares quer dos algarvios quer de gentes de outras paragens. Mais uma vez a natureza não fugiu à regra e proporcionou espectáculos de alva brancura como se a neve nos visitasse como acontece pela europa do norte.
Há sempre uma ou outra que floresce mais tarde . Por isso aqui ou acolá ainda é possível observar belas flores de amendoeira que o vento se encarrega de espalhar aos quatro ventos. Até para o ano.
Ficamos com um poema de Ary dos Santos sobre este tema, que pela sua pena nos deixa também deslumbrados.
A.C.
Fotos de José Costa.
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Tempo da Lenda das Amendoeiras
(…)
A Princesa
Ai portas do meu silêncio.
Ai vidros da minha voz.
Ai cristais da minha ausência
da terra dos meus avós
desatavam-se em soluços
os seus cabelos desfeitos.
(…)
O Rei
Dizei-me magos oragos
anões duendes profetas
adivinhos e jograis
sagas videntes poetas
como hei-de secar o pranto
daqueles olhos de rio
como hei-de calar os ais
daquela boca de estio
como hei-de quebrar o encanto
que numa tarde de pedra
talhada pela tristeza
selou com dedos de chumbo
o sorriso da princesa
que suspira pela neve
da ponta do fim do mundo.»
in SANTOS, Ary dos. – Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, 1964.