Há muita gente que julga que os mais consagrados poetas do Algarve não se interessavam por poesia popular. Nada mais errado. Até mesmo o Fernando Pessoa escreveu muitas quadras populares, que serviram para vender dezenas de manjericos, durante anos a fio, no Cais do Sodré, ou junto à estátua equestre do D. José, nas noites festivas de S. João e de Stº António.
Para que sirvam de exemplo, aqui ficam, extractadas da imprensa da época, algumas quadras populares:
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Não digas que me amas
A ver se tenho ciúme
Os laços de amor são chamas
E não se brinca com lume.
(João de Deus)
Deus criou o sol num dia
E noutro fez o luar.
Mas, p’ra fazer os teus olhos,
Levou um ano a pensar
(João Lúcio )
Beijos puros não há hoje,
Nem mesmo esses que eu te dei!
– Eu sei lá quem tu beijastes!
Sabes lá quem eu beijei!
(José Dias Sancho )
Ó alcachofra, Deus queira,
Por amor de nós, os dois,
Que tu morras na fogueira
E ressuscites depois.
(Emiliano da Costa )
Nas voltas tontas do mundo
Mais tonta coisa não vi,
Tu, tonta, à roda dum mastro,
E eu, à roda de ti!…
/Armando Miranda )
Os meus olhos choram sempre
Quando me lembro, meu bem,
Como foi que tu morrestes,
Sem que eu morresse também!…
(Lutgarda de Caires )
Meu amor, vê se te ajeitas
a usar meias modernas,
dessas meias que são feitas
da pele das próprias pernas.
(António Aleixo )
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Fonte: Promontório da Memória – Jose Carlos V. Mesquita
Fotografia: Mastro de S. Joao – Blog : Mais Pernambuco
Afinal fica provado que a Quadra não é uma forma menor de poesia. Belas estas quadras sim senhor.
Em véspera de S. Pedro é bom ler algumas quadras populares muito bem feitas. Viva o o úiltimo dos Santos Populares deste ano. Gaby
Que bonitas são estas quadras populares. O Aleixo sempre a marcar pontos. Muito bonito. Celia